Sobre o amor na minha vida

Alguns dizem que amor é amor e pronto e acredito que carreguei essa percepção ao longo da vida e, por isso amei sem saber. Achei não amar o meu pai até que entendi que o meu receio em desagrada-lo e minha ânsia pela admiração dele nasce do amor. Achava que não amava minha mãe o suficiente até entender que mãe às vezes ama por dois e acaba não cabendo mais demonstração dele na relação.  

Amor na minha vida se deu por chatice, por cobrança, por tropeços, intromissões e por super proteção. Justamente por isso ele veio acompanhado de sentimentos que são mais barreiras que abraço: raiva, dor, mágoa, ódio… E apesar dos obstáculos o destino final sempre foi o perdão.

Percebo o discurso comum e recorrente que diz que o amor não maltrata, não machuca, mas acho que isso só é verdade quando o amor é separado do sujeito que ama. O ser humano carrega consigo crenças, dores, narcisismo, violência, cultura e, dentro dessa ambiguidade de sentimentos que o amor nos causa, ele pode ser destrutivo e, por isso, aprendi que amar não basta.

Hoje o amor tomou outras formas em minha vida. Após o nascimento do meu filho consegui ver a construção imaterial dele e experienciar mais de perto a ambiguidade de amar. Senti raiva quando ele não dormia, senti ódio quando não conseguia ir ao banheiro ou fazer uma comida, mas era incrível que esses sentimentos que nomeio como barreiras, eram rapidamente dissipados quando eu olhava no fundo daqueles olhos grandes e pretos dos quais me orgulho tanto por serem como os meus. Esses momentos nunca foram desacompanhados de lágrimas, um aperto no peito e uma voz interna que dizia que eu poderia ver beleza naquilo e amar de forma diferente.  Aquele amar normalmente descrito como amor, sabe? Amar típico, amor abraço, amor gratidão… Percebi então que amar também era uma decisão.

Ao conhecer João, meu namorado, entendi que o amor pode ser apaixonado. Ainda não havia experimentado algo assim e confesso que acredito que ao longo da vida confundi o amor com utilidade e justamente por isso fico insegura, afinal me acompanham dívidas no banco, de sono, um corpo afetado pela gestação, um filho de pai ausente, desemprego e conflitos profissionais.  Mas eu entendi que um áudio cantando desafinada, uma videochamada descabelada, uma satisfação do movimento intestinal poderiam compensar um dia difícil , então aprendi que o amor também é diversão.

Nessa soma incompleta do que aprendi sobre o amor, entendi que pra amar melhor às vezes é preciso tomar distância para conseguir apreciar a vista do que é admirável no outro. Alguns passos atrás para você conseguir perder o foco dos detalhes e apreciar o outro por completo. Uma vez que essa vista for apreciada, jamais sairá da memória e mesmo que a gente precise olhar alguma falha de perto, fica fácil retomar a memória do que foi visto de longe e com saudade. As fotos, álbuns de infância, vídeos são ótimas formas de fazer isso, mas às vezes ir embora é preciso.

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