REESCRITA PELA ESCRITA

(Esse texto é resultado de um exercício do meu curso de Escrita Afetuosa)

Sempre achei que escrever era   me colocar em algo, materializar aquilo que não enxergam em mim e, por isso, quando me entregam a missão de escrever para qualquer coisa que vá ser lida, eu sinto medo. Medo de não conseguir livrar o texto de mim e entregar algo tão pequeno, tão insignificante, inseguro, impreciso, fora de forma e preguiçoso.

Eu não ousava escrever sem buscar palavras em algo que não seja eu e deve ser por isso que sempre senti afinidade com a pesquisa, com os estudos. Afinal, existem conhecimentos infinitos e eu posso me apropriar de vários discursos e soterrar a minha voz, fugir da minha autoria, das minhas sombras.

É isso que eu vinha fazendo da minha vida…

Potencializando o discurso da falta de carisma para evitar conflitos, julgamentos, convivências complicadas, eu deixava de ensaiar ser eu e sinto o peso disso hoje ao tentar produzir algo para a internet. Afinal, o que atravessa o outro sou eu na mais pura essência e sei que, os que convivem comigo esperam sedentos pela minha vulnerabilidade.

A necessidade da partilha se intensificou depois da descoberta da gravidez. Não sei o porquê, mas acredito que seja pelo fato de que gerar uma vida, apesar de corriqueiro, é algo enorme, onde a gente ficar enorme e não passa desapercebida. E eu fiz isso sem nenhum convencionalismo, desorganizando todo o sistema tradicional de quem me conhece. Terminei com o pai do meu filho ao engravidar, namorei um cara durante a gravidez, terminei no puerpério e me apaixonei novamente quando meu filho tinha 7 meses e hoje meu companheiro tá escolhendo ser pai do menino de outro. Quem não é mãe quer saber como é, quem é mãe nova quer poder comparar ou partilhar das dores e alegrias, quem já é mãe velha quer poder dar uma utilidade ao conhecimento invalidado. A gente ocupa tanto espaço no outro após a maternidade, que parece que nos tornamos propriedade pública e, talvez, eu queira dar essa satisfação, mas do meu jeito, mostrando as infinitas possibilidades de uma vida e dando corpo às linhas tortas com as quais as pessoas fingem costume, mas se impressionam com o tamanho dos desvios.

Além disso, transbordo fragilidade e solidão, mas não quero que elas caiam no chão e escorram no ralo. Quero compartilhar e encher corpos, quero atravessar pessoas, quero conversar, dizer, ser compreendida e, quando não, conseguir continuar compartilhando, continuar sendo.

Quero mostrar a minha potência, porque eu sei que só vou enxerga-la quando for validada por outro. E não me venha com o discurso de que o que importa é eu enxergar, porque a gente sabe que é nesse jogo de existir junto que a gente se faz. Quero poder me assumir vaidosa, quero que as pessoas me reconheçam, me vejam e que me desconheçam, me interpretem mal e, ainda sim, eu consiga estar convicta de mim.

Hoje sei: a escrita é o meu caminho livre e sem destino, minha meditação, minha auto descoberta e a melhor forma de me expressar, mesmo que falte a técnica. A gente se escolheu.

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